sexta-feira, dezembro 25, 2009

Seria possível conciliar cristianismo e evolução?

Seria possível conciliar cristianismo e evolução?

 

Talvez ao contrário do que possa imaginar Karl Giberson, autor de “Saving Darwin” (ver mensagem mais adiante), questiono se o debate entre evolução e criação um dia terá fim – a não ser, claro, após a volta de Jesus e a consumação de tudo. Um dos motivos é porque se trata de um debate meramente religioso e, portanto, baseado apenas em credo pessoal, interpretações e especulações, em vez de exclusivamente em evidências, como alguns extremistas de cada um dos lados dizem ser.

 

Como cientista lamento vermos a ciência, outrora objeto de diálogo e reflexão, restrita ao cativeiro das mãos de homens e mulheres que tornaram o ceticismo a respeito de Deus e da Sua criação uma bandeira de luta extremista, assumindo uma postura intolerante, censora, manipuladora e, principalmente, dogmática. O evolucionismo tornou-se, pois, uma postura francamente religiosa – sim, a teoria da evolução virou um credo absoluto, totalitário e tão ou mais fundamentalista e dogmático do que os religiosos criacionistas que os evolucionistas criticam. Julgam a priori e não a posteriori, o que leva a manipulações dos fatos, a seletividade nas informações e a extrapolações absurdas que, de imediato, são tidas como verdades incontestáveis – e ai de quem ousar questioná-las. Para o evolucionismo, evidências são apenas as que seletivamente servem à sua causa, enquanto quaisquer outras, que possam por em dúvida seus dogmas, são convenientemente omitidas. Se vêm à tona, tornam-se objeto de censura. E, por desespero de causa, até mesmo fraudes ocorrem, causando danos irreparáveis.

 

Por outro lado, temos, também, criacionistas fixistas psicóticos, em geral mais apologetas histéricos do que propriamente cientistas cristãos sinceros tentando esclarecer verdades ainda encobertas. Esta categoria específica tornou o criacionismo sua única bandeira de luta, ocupando-se com a periferia teológica e, não raro, vivendo simples religiosidade, esquecendo-se da vida cristã e da genuína comunhão com Deus. Em vez de ajudar na missão do “Ide”, chegam a atrapalhar, maculando o nome de Jesus, ainda que possa haver boa intenção em seus corações... Para completar, há gente desesperada em meio a estes, e fraudes também podem ocorrer.

 

Como biólogo e paleontólogo, preciso dizer: as coisas não são absolutamente claras e determinantes para nenhum dos lados.

 

Estudei evolução com relativa profundidade, por ter sido meu instrumento de trabalho, tanto na tentativa de compreensão dos complexos mecanismos da vida, quanto na necessidade de investigar e descrever novos grupos de fósseis representando seres que habitaram nosso planeta no passado. Em minha formação científica, fui adestrado a abominar o criacionismo como se, de onde estava, entendesse alguma coisa de seus pressupostos e de suas alegadas evidências.

 

Contudo, uma vez cristão renascido, conheci o criacionismo em suas diversas vertentes. Admito: assim como na evolução, há muita besteira sendo dita numa parcela do criacionismo, muita postura arrogante, intransigente e vociferante, característica de uma religiosidade travestida de cristianismo que se distancia de como Jesus realmente era e se posicionava diante dos homens. Mas ATENÇÃO: também há muita coisa séria, científica, que exige consideração, reflexão e profunda análise por parte de quem se considera um cientista honesto e justo – o criacionismo sério mereceria, da parte da comunidade científica, espaço garantido e democrático na mídia, nos eventos e nos periódicos científicos. Assim se teria possibilidade de as alegações, interpretações e especulações dos dois lados do debate se submeterem a um julgamento mais justo e igual.

 

Esse é um drama difícil: de um lado, diferente de como Jesus faria (e faz), certos criacionistas não conseguem amar os evolucionistas porque estes, em sua essência, se tornaram uma “religião” fundamentalista que prega contra Deus e os cristãos – como, pois, serão salvos se deles nos afastamos? De outro lado, evolucionistas odeiam os criacionistas, tornando-se cegos a toda e qualquer evidência contrária à teoria que se tornou um credo anticristão.

 

É possível uma conciliação entre cristianismo e evolução? Em meus primeiros passos como cristão, julguei que sim. Hoje digo que não sei.

 

Nós, cristãos renascidos, temos como essência da verdade o fato de que nosso Deus criou todas as coisas e continua intervindo no universo e na vida, como Lhe apraz. Contudo, precisamos admitir que o processo como Deus criou, independente de qual tenha sido, é assunto periférico, e não essencial. Mas então nos deparamos com a doutrina da infalibilidade das Escrituras – na qual acredito, mesmo que ainda não saibamos muito bem o que significa essa tal “infalibilidade” – e somos impelidos, por coerência, a adotar a literalidade do texto de Gênesis 1 e, a partir daí, nos tornarmos criacionistas fixistas (Deus criou tudo em 6 dias de 24 horas, os seres vivos de hoje são exatamente como eram na criação, e a Terra não tem mais que 6.000 anos). Se pensarmos em alguma forma de evolução teísta como alternativa, nos imaginamos pondo em risco a doutrina da infalibilidade da Bíblia e, com isso, gerando prováveis inconsistências filosóficas. Por exemplo: se Gênesis 1 não é literal, como saber se outros textos das Escrituras o são? E se não soubermos, como determinaremos em que devemos crer ou não?

 

Em contrapartida, como biólogo e paleontólogo posso dizer que há interessantes evidências de que a Terra não é assim tão jovem, e que alguma mudança aconteceu entre as espécies de seres vivos ao longo do tempo. Seriam estas mudanças aquilo que alguns chamam de “microevolução”? (pequenas modificações que não chegam a produzir novos grupos de seres). Talvez sim, talvez não. E a Terra teria os bilhões de anos que a teoria evolutiva diz? Pode até ser, mas estou quase convencido de que não – minha opinião (e aqui é especulativa) é a de que nosso planeta nem tem só os 6.000 anos do criacionismo fixista, nem os bilhões de anos do evolucionismo tresloucado. Há, para desespero de muitos, evidências fortes que podem levar a interpretações de apoio aos dois lados, assim como a posturas intermediárias. Observe que o mais difícil para um cientista cristão é admitir que as respostas factuais não são tão simples e evidentes como gostaríamos, mas sobre nós, mais do que sobre os não-cristãos, pesa uma responsabilidade maior para com a verdade, a honestidade e a seriedade no trato de dilemas como esse.

 

Não li “Saving Darwin” ainda. Mas só pela resenha da Gazeta do Povo (vide mais adiante), e apesar do autor do livro dizer-se cristão evangélico, o mínimo que posso dizer é que ele parece falacioso. Por exemplo, é usado o argumento de que se Deus tivesse feito tudo como está – aves que não voam, gatos “torturadores” e vespas “malvadas”, Ele seria um mau designer e um criador cruel, e que haveria, na natureza, o que ele chama de “falhas de design”. Ora, tal argumento não somente é ingênuo, como sofismático. Trata-se de uma leitura simplória da infinitamente complexa teia da vida, que, talvez por ser físico e não biólogo, o autor dá a aparência de enxergar de modo antropomórfico e reducionista. Aquilo que aos olhos de muitos pareceria “crueldade” é, no olhar biológico, infindável beleza demonstrativa dos necessários e intrincados processos de manutenção da vida e do equilíbrio do ambiente terrestre.

 

Certamente a vida, aos olhos de Deus, tem um significado bastante distinto daquele que nós criamos em nossa cultura humana, terrena e por demais limitada. Quando morre um ente querido, ou alguém que parece inocente, nossa reação é de tristeza e frustração, e somos tomados por uma sensação de injustiça. No entanto, a Bíblia revela que Deus vê de outra forma: aquela pessoa pode estar sendo tirada de uma vida limitada e de sofrimento, para uma vida melhor, plena e eterna, na presença dEle. Quando Jesus avisou aos apóstolos que eles seriam perseguidos e mortos, aquilo fez dEle um ser cruel? Pelo contrário, o sofrimento e a morte dos apóstolos, assim como a dEle próprio, estavam imbuídos de significados espirituais profundos e necessários para todo o cristianismo que dali nasceria; e Deus sabia exatamente o que esperava aqueles mártires na vida porvir. De semelhante modo, é provável que o olhar antropomórfico que naturalmente temos sobre o “sofrimento” de ratos servindo de brinquedo a gatos antes de serem comidos signifique, aos olhos de Deus, assim como de biólogos, algo bem diferente: quem sabe, parte de processos da vida por demais complexos para que os entendamos na sua plenitude. E pronto. Ou seria preciso imaginarmos um Criador presente apenas no ato da criação dos primeiros organismos, numa espécie de “ponta-pé inicial”, e que depois se retirou dos processos dali decorrentes, tornando-se mero espectador, como parece querer o autor do livro? Isso nos faria ver Deus como “menos cruel”?

 

Fato é que todos, criacionistas e evolucionistas, crentes em Deus ou ainda não, precisamos descer de nossos arrogantes pedestais e nos humilharmos diante da incompreensível grandiosidade que é o nosso Criador, assim como da infinita complexidade que é a Sua criação. Continuarmos sendo prudentes e firmes investigadores, contudo conscientes de que muito do que investigamos são mistérios mais complicados do que imaginamos, e que não teremos respostas fáceis e diretas para grande parte de nossas dúvidas. E, o mais importante: nos darmos conta de que aquilo que nosso Senhor mais quer de nós é um coração puro e submisso, uma vida coerente com a fé em Cristo Jesus, um proceder pautado menos na religiosidade e mais no perdão, no amor e na graça do Deus que se deu por aqueles que o negam e de voltam contra Ele...

 

O dilema criacionismo versus evolucionismo já me tirou muito o sono. Hoje não mais. Continuo com muitas dúvidas, mas descanso, sereno e em paz, nos braços dAquele que nos ama incondicionalmente. Enquanto isso, as batalhas espirituais continuam e, mesmo descansando no Senhor, jamais baixo a guarda.

 

Sinceramente,

 

Ricardo B. Marques

 

·         Biólogo, bacharel e licenciado (UFC), B.Sc, M.Sc

·         Paleontólogo, cadastrado na International Palaentological Association (IPA)

·         Zoólogo, cadastrado no International Directory of Primatology (IDP) e membro da American Society of Mammalogists (ASM)

·         Formação em Neurociências pela Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC)

·         Biólogo Forense, membro da International Association of Crime Scene Investigators (IACSI)

·         Professor universitário de Bioquímica e Biologia Molecular, membro da American Society for Biochemistry and Molecular Biology (ASBMB)

·         Administrador, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC/CE), membro da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC) e professor de Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva no Curso de Pós-Graduação em Gestão de Negócios (Faculdade Christus)

·         Educador, um dos fundadores e atual Diretor-Geral do Colégio Kerigma (Fortaleza, CE), uma fundação educacional sem fins lucrativos

 

 

 

De: José Maria N. Pereira [mailto:enepejota@hotmail.com]
Enviada em: sexta-feira, 25 de dezembro de 2009 06:39
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A conciliação possível entre cristianismo e evolução

Hoje faz exatamente 150 anos que A origem das espécies, de Charles Darwin, foi lançado. Esse livro afetou a humanidade como poucas outras obras ao longo da história, e para muitos se tornou sinônimo da incompatibilidade entre ciência e religião. Felizmente, de uns tempos para cá alguns cientistas competentes em seus campos, e que são pessoas religiosas, passaram a construir uma meio-termo, defendendo Darwin dos ataques de fundamentalistas religiosos e defendendo a religião dos ataques de fundamentalistas científicos.

Karl Giberson, presidente da Fundação BioLogos, é um desses autores. Cristão evangélico, Ph.D. em Física, professor universitário, Giberson lançou Saving Darwin (HarperOne, 248 p. Meu exemplar foi comprado na Amazon) e veremos que não foi sem razão que o Washington Post considerou a obra como um dos melhores livros de 2008. É com a resenha de Saving Darwin que o Tubo de Ensaio abre a semana dedicada a Charles Darwin e aos 150 anos de seu livro.Como não podia deixar de ser, Darwin é o personagem principal do capítulo inicial do livro. O Darwin de verdade, e não as lendas criadas em torno dele, seja a história piedosa de uma reconversão no leito de morte e rejeição de sua teoria, seja a do sujeito que tinha como objetivo de vida "matar Deus". O verdadeiro Charles Darwin, a bordo do Beagle, viu que o paradigma que explicava a vida na Terra tinha suas falhas (curiosamente, esse paradigma, o de William Paley, era muito parecido com o Design Inteligente que temos hoje), e trabalhou em cima disso. O resultado todos nós sabemos, mas o que escapa de muita gente é que a teoria da evolução, na verdade, acomoda Deus melhor do que a opção existente até então.

Darwin se incomodava ao ver o que identificava como sinais de crueldade na natureza: gatos que torturavam ratos antes de comê-los, ou vespas cujas larvas eram programadas para se alimentar dos órgãos internos de seu hospedeiro na ordem exata para fazê-lo viver o máximo possível enquanto era devorado. Ele também identificava algumas coisas fora do lugar: na América do Sul, Darwin viu emas e se perguntava qual era o ponto de uma ave que não voava. Se Deus fez tudo isso exatamente desse jeito, além de cruel, Ele seria um mau designer. Agora, se gatos torturadores, vespas e emas eram produto da seleção natural e não da vontade direta divina, Deus podia permanecer como o autor das leis naturais, que de vez em quando resultam em algo sublime, e de vez em quando levam a "falhas de design". Leia +.

fonte: Gazeta do Povo
dica do Jarbas Aragão


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